segunda-feira, 15 de abril de 2024

Estudos revelam diferenças cerebrais em "Teóricos da Conspiração"

Pesquisa feita por uma equipe de psicólogos da Vrije Universiteit Amsterdam, na Holanda, e da Universidade de Kent, no Reino Unido, chegaram à conclusão que os teóricos da conspiração estão viciados em algo chamado "percepção de padrões ilusórios".

Os cientistas mostraram que a percepção ilusória de padrões está no centro da crença da teoria da conspiração.
Os cientistas mostraram que a percepção ilusória de padrões está no centro da crença da teoria da conspiração.

 Os  Estudos indicaram uma correlação significativa entre a tendência de perceber padrões em sequências aleatórias e uma crença mais forte em teorias da conspiração e fenômenos sobrenaturais.

O estudo também indicou que a exposição a conteúdo conspiracionista ou paranormal pode intensificar a percepção de padrões, sugerindo que as crenças podem ser moldadas pelas informações consumidas.

Embora o reconhecimento de padrões seja essencial para a compreensão do mundo e a prevenção de erros, identificar padrões inexistentes pode resultar em crenças irracionais.

O 11 de Setembro foi um trabalho interno. O pouso na Lua foi uma encenação. Vacinas causam autismo. Essas são algumas das teorias da conspiração mais difundidas, defendidas tanto por pessoas inteligentes quanto por cidadãos comuns. Mas o que leva alguns a acreditar nessas ideias enquanto outros não? Cientistas estão mais próximos de entender esse fenômeno, e tudo indica que a resposta reside no cérebro dos próprios teóricos da conspiração, influenciando a maneira como percebem o mundo.

Há tempos, cientistas suspeitavam que a adesão a teorias da conspiração — definidas em um estudo recente como "a crença de que um grupo secreto se une com intenções maléficas" — estivesse associada ao fenômeno da "percepção de padrões ilusórios", ou seja, a identificação de padrões onde não existem. Contudo, havia pouca evidência empírica para sustentar essa teoria. Para preencher essa lacuna, pesquisadores britânicos e holandeses conduziram uma série de experimentos. Os resultados foram publicados no European Journal of Social Psychology.

Teorias da Conspiração e Crenças Sobrenaturais

Primeiramente, solicitou-se a 264 indivíduos que avaliassem a intensidade de suas crenças em teorias conspiratórias, tanto fictícias quanto conhecidas, numa escala de 1 a 9. A crença em fenômenos sobrenaturais, horóscopos e telepatia, também foi classificada. Posteriormente, os participantes foram envolvidos em cinco estudos distintos.

No primeiro estudo, questionou-se se eles identificavam algum padrão numa sequência de arremessos aleatórios de moedas. No segundo, pediu-se que adivinhassem o resultado do próximo arremesso de moeda após uma série de arremessos aleatórios; alguns foram instruídos a buscar padrões, enquanto outros não. "A percepção de padrões em resultados aleatórios de lançamento de moedas mostrou-se significativamente correlacionada tanto com as crenças conspiratórias quanto com as crenças sobrenaturais", relatam os autores do estudo. "Estes resultados são pioneiros ao sugerir diretamente uma relação entre a adesão a teorias da conspiração e a detecção de padrões, e conceitualmente replicam essa relação no contexto de crenças sobrenaturais."

Um terceiro estudo encontrou uma correlação entre crenças irracionais e a percepção de padrões em pinturas caóticas, como as de Jackson Pollock, famoso por sua técnica de gotejamento de tinta. Em outras palavras, indivíduos com maior inclinação a acreditar em teorias da conspiração e no sobrenatural tendem a identificar mais padrões na arte, mesmo quando estes não existem.

O quarto estudo solicitou que os participantes lessem um blog de teor conspiracionista, cético ou paranormal. Os resultados indicaram que a concordância com os blogs conspiracionistas ou paranormais estava associada a uma maior percepção de padrões. 

Já o quinto estudo manipulou um artigo online sobre a NSA, criando duas versões: uma pró-conspiração e outra anti-conspiração. Os indivíduos que leram a versão pró-conspiração mostraram-se mais propensos a perceber padrões em eventos mundiais. Esses dois estudos evidenciaram como influências externas podem moldar as percepções das pessoas. "Consideradas em conjunto, essas descobertas reforçam a hipótese de que a percepção de padrões ilusórios constitui um elemento cognitivo fundamental das crenças em conspirações e no sobrenatural", afirmam os autores.

A habilidade de reconhecer padrões é crucial para o comportamento humano, pois nos permite compreender o mundo ao identificar relações causais, como o fato de que beber água alivia a sede e que atitudes hostis podem gerar respostas agressivas. Sem essa capacidade, estaríamos fadados a repetir os mesmos erros incessantemente. No entanto, é quando identificamos padrões inexistentes que podemos enfrentar dificuldades.

A compreensão dessas diferenças cognitivas pode orientar o desenvolvimento de estratégias de comunicação e ferramentas educacionais mais eficazes. Iniciativas educacionais que aprimorem as habilidades de pensamento crítico, promovam a alfabetização científica e ensinem a avaliar criticamente as fontes de informação podem reduzir a suscetibilidade a teorias da conspiração.

Com informações de European Journal of Social Psychology.

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